quarta-feira, 10 de março de 2021

 REPOR A VERDADE HISTORICA .ALTAMENTE DETURPADA PELOS ESCRIBAS DO FASCISMO , DO CAPITAL ...!!!

Josef Stalin aos 23 anos de idade, retratado em duas fotografias de ficha policial, após ser preso pela guarda czarista por envolvimento com grupos revolucionários. Rússia, c. 1902.
Poucos personagens foram tão ativos na construção do curso da história do século XX como Josef Stalin (1878-1953). Seu legado é dos mais significativos e ambivalentes. Sob sua liderança, a União Soviética atingiu o status de superpotência, elevando significativamente o padrão de vida de seus habitantes e englobando um terço do planeta Terra em sua esfera de influência. Stalin também foi responsável por coordenar o combate aos movimentos fascistas europeus e teve papel fundamental na derrota da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, seu governo, desenvolvido em meio a dificuldades internas e externas próprias do processo revolucionário, foi marcado por episódios de autoritarismo e repressão e, em alguns momentos, pelo recrudescimento do conservadorismo.
Mais do que um reflexo do seu contexto atribulado e de sua personalidade complexa e contraditória, a caracterização de Stalin como ícone da luta antifascista e, simultaneamente, como um suposto ditador cruel e sanguinário costuma depender dos interesses políticos e ideológicos que embasam as narrativas - não raramente eivadas de revisionismo, suposições, rumores ou extrapolações. Afinal, a história é escrita pelos vencedores, que estabelecem seus próprios parâmetros. Churchill, paradoxalmente seu rival e aliado, costumava repetir: "a história será gentil comigo, pois pretendo escrevê-la eu mesmo". Ele tinha razão. Para azar da fortuna crítica de Stalin, o capitalismo venceu a batalha das narrativas.
Nascido em uma família pobre de Gori, na Geórgia, então parte do Império Russo, Josef Stalin frequentou o seminário ortodoxo de Tífilis, envolvendo-se desde cedo com o movimento estudantil revolucionário. Em 1905, travou contato com Lenin e ingressou no Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Na agremiação, tornou-se editor do jornal Pravda, escreveu "O Marxismo e o Problema Nacional" e ajudou a levantar fundos para o grupo dos bolcheviques liderado por Lenin. Em 1913, foi preso pela polícia czarista e obrigado a se exilar. Após a eclosão da Revolução de 1917, retornou à Rússia, estabelecendo-se em Petrogrado e apoiando as "Teses de Abril" escritas por Lenin. Ao lado de Sverdlov, Stalin assumiu a direção do partido enquanto Lenin estava refugiado na Finlândia. Nesse meio tempo, ajudou a preparar a insurreição durante a Revolução de Outubro, que instalou os bolcheviques no poder.
Após a revolução, Stalin assumiu o cargo de Comissário do Povo no Ministério das Nacionalidades (1917-1922), aplicando a política bolchevique de autodeterminação nacional e de centralização. Também serviu na Guerra Civil Russa, ajudando a derrotar o Exército Branco e as tropas internacionais antirrevolucionárias. Em 1922, Stalin supervisionou a criação da União Soviética e assumiu o cargo de secretário-geral do Partido Comunista. Doente, Lenin ditou, entre dezembro de 1922 e janeiro de 1923, as notas (chamadas de "testamento") em que demonstrava preocupação com o autoritarismo de Stalin e propunha meios de limitar o poder do secretário-geral. Malgrado a advertência, Stalin gradualmente assumiu a liderança do país após a morte de Lenin, em 1924, derrotando um a um todos os seus possíveis concorrentes. Sua gestão enfrentou forte resistência de Leon Trótski, que se aliou a Grigori Zinoviev, Lev Kamenev e Alexander Shliapnikov para criar uma frente unificada de oposição - definitivamente suplantada em 1927.
Durante seu governo, Stalin adotou a política de Estado denominada "Socialismo em um Único País", que pregava o fortalecimento interno da União Soviética em detrimento dos princípios internacionalistas adotados nos primeiros anos pós-revolução. Em abril de 1929, rompendo com a ala conservadora do Partido Comunista, Stalin abandonou a Nova Política Econômica estabelecida por Lenin, substituindo-a pela política de planos quinquenais. Iniciou os processos de planificação da economia, industrialização massiva e coletivização das terras, além de atuar fortemente para subjugar a classe dos kuláks (latifundiários e proprietários rurais abastados). A edificação da indústria pesada e as grandes obras de transformação da natureza foram bem sucedidas e permitiram que a União Soviética prosperasse economicamente enquanto o mundo capitalista mergulhava na grande recessão dos anos trinta. O país também teve importantes ganhos sociais com a universalização dos serviços básicos como o direito à moradia e à educação e a criação do sistema público de saúde, com subsequente elevação do padrão de vida da população, além de fazer avanços significativos em prol da erradicação do analfabetismo.
Não obstante, as políticas agrícolas de Stalin enfrentaram forte resistência dos kuláks, causando interrupções na produção de alimentos. Tal conjuntura, aliada aos problemas climatológicos que afetaram a safra de 1932, acabou contribuindo para a Grande Fome Soviética de 1932-1933, com graves consequências para as regiões produtoras de grãos, como a Ucrânia, o Cáucaso do Norte e o Cazaquistão, vitimando ao todo três milhões de pessoas. A década de trinta foi marcada simultaneamente por avanços sociais e pelo recrudescimento do autoritarismo. A constituição promulgada em 1936 consolidava uma série de direitos civis, incluindo a igualdade de gênero e a criminalização do racismo. Ao mesmo tempo, apoiando-se em um aparelho político muito poderoso, Stalin reforçou as instituições estatais e tratou de debelar numerosos complôs, tentativas de golpes e redes de sabotagem (reais ou hipotéticos), procedendo a uma onda de expurgos, que se iniciou logo após o assassinato de Serguei Kirov, em dezembro de 1934, e atingiu seu paroxismo após a nomeação de Nikolai Yezhov para a chefia do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (NKVD, no acrônimo transliterado). A devassa prosseguiu até 1938, atingindo dirigentes do Partido Comunista, membros do Komintern e oficiais do Exército Vermelho.
No plano externo, a União Soviética buscou promover o marxismo-leninismo através da Internacional Comunista e apoiou os movimentos antifascistas europeus durante toda a década de 1930, particularmente a Guerra Civil Espanhola. Em 1941, a Alemanha Nazista invadiu a União Soviética durante a Operação Barbarossa - uma das campanhas militares mais sanguinárias da Segunda Guerra Mundial. Assumindo o comando das forças armadas da União Soviética, Stalin conclamou a população a resistir à invasão nazista e coordenou uma brilhante contraofensiva, que obrigou os invasores a recuarem em todas as frentes no Cáucaso, na Europa Oriental, na Europa Central e nos Países Nórdicos. Em março de 1945, as tropas do Exército Vermelho invadiram a Alemanha e tomaram Berlim, levando Hitler ao suicídio e forçando os nazistas à rendição incondicional, encerrando a Segunda Guerra na Europa.
Capitaneado por Stalin, o Exército Vermelho foi responsável por matar 9 de cada 10 soldados nazistas que tombaram na guerra. Apesar do elevado custo da vitória, que ceifou a vida de quase 27 milhões de cidadãos soviéticos, Stalin saiu do conflito politicamente fortalecido e apto a demandar compensações. Conseguiu expandir o território soviético, anexando os estados bálticos, e impôs o domínio da União Soviética sobre a Europa Central e Oriental, expandindo sua área de influência. Também foi responsável por coordenar esforços para a modernização da indústria e o desenvolvimento da tecnologia soviética nos anos quarenta, nomeadamente através da criação dos bem sucedidos programas espacial e nuclear. Em 1949, a União Soviética passou a contar com armas nucleares. Stalin ainda liderou os esforços de reconstrução do país no período pós-guerra até sua morte, ocorrida em 1953.
A vitória de Stalin sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial criou um constrangimento para os países do ocidente capitalista. O socialismo tinha agora um trunfo importante - ter derrotado o maior genocida da história, adulado e elogiado por muito tempo por liberais e ícones do capitalismo, tais como Churchill, Henry Ford e William Hearst. Só havia uma maneira de desconstruir a imagem de Stalin e neutralizar o impacto simbólico da vitória soviética sobre o nazismo: reescrever a história, transformando Stalin em um genocida ainda pior. Em um ambiente intoxicado pelo anticomunismo hidrófobo, legado do macarthismo e do temor da "Ameaça Vermelha", imprensa, mídia, indústria do entretenimento, universidades, quase todos os os centros de formação e difusão do pensamento ocidental ficaram imbuídos da tarefa de "adaptar criativamente" a história. E começaram a pipocar as pesquisas e publicações acadêmicas de historiadores liberais e conservadores acusando Stalin de cometer genocídios, em uma escala que se torna gradualmente mais e mais monumental. As universidades ocidentais são tomadas por um frenesi, uma corrida revisionista eufórica rumo à construção de um mega-vilão "sob demanda".
Stephen Wheatcroft, da Universidade de Melbourne, começou com certa humildade, acusando Stalin de matar "apenas" 3 milhões de pessoas. Em seguida, Nanci Adler tentou equiparar nazismo e comunismo em termos de mortalidade, imputando a Stalin o assassinato de 9 milhões de pessoas em seu "Vítimas do Terror Soviético". Jonathan Brent, da Universidade de Yale, mais que dobrou a estimativa de Adler, apresentando a cifra de 20 milhões de vítimas, número endossada pelo historiador britânico Robert Conquest. Rudolph Joseph Rummel, da Universidade do Havaí, alcançou novos patamares, elaborando a incrível cifra de 43 milhões de mortos. William C. Cockerham não enxergou limites: "arredondou" a contagem de corpos pra um total de 50 milhões de vítimas. Mas é Norman Davies, autor de "Europa, Uma História", o vencedor do "leilão do genocídio comunista", acusando Stalin de matar 60 milhões de pessoas.
A enorme variação dos números - de 3 milhões a 60 milhões de vítimas - são indicativos da falta de critérios minimamente padronizados e da ausência de uma metodologia confiável para calcular tais estimativas. Os números muito altos, em especial, podem ser desmentidos com uma simples análise dos dados demográficos disponíveis. Os censos demográficos demonstram que, durante a década de trinta - período dos "grandes expurgos" e das crises famélicas - a população da União Soviética aumentou em mais de 20 milhões de pessoas - passou de 148 milhões de habitantes em 1926 para 168 milhões de habitantes em 1939. Esse dado, por si só, já torna matematicamente impossíveis as estimativas mais histéricas de cômputos acima dos sete dígitos.
Essas cifras de dezenas de milhões de mortes costumam ser embasadas por um truque estatístico, por meio do qual se traça uma linha de crescimento demográfico imaginária a partir da taxa de natalidade anterior à ascensão de Stalin ao governo soviético, comparando-a em seguida com a população real. A diferença entre as grandezas, alega-se, equivaleria ao número de mortos. Esse truque carece de sentido, pois é embasado no cálculo de pessoas que nunca existiram e na presunção de que a taxa de natalidade soviética deveria permanecer imutável, mesmo após o processo de industrialização e períodos de conflitos civis internos e guerras externas, tipicamente caracterizados por reduções expressivas das taxas de natalidade. Outros levantamentos, como o apresentado na obra "O Livro Negro do Comunismo", são baseados na inflação proposital e na distorção de conceitos, incluindo como "vítimas de Stalin" até mesmo soldados soviéticos mortos por Adolf Hitler. Dois co-autores de "O Livro Negro do Comunismo", Jean-Louis Margolin e Nicolas Werth, acusaram o editor da obra, Stéphane Courtois, de distorcer e manipular deliberadamente os dados para atingir a cifra de 20 milhões de mortos pelo regime soviético.
Estudos mais recentes, baseados em pesquisa em fontes primárias junto aos antigos arquivos soviéticos abertos ao público nas últimas décadas, tendem a trazer estimativas bem mais modestas. O artigo "Vítimas do Sistema Penal Soviético nos Anos Pré-Guerra", de J. Arch Getty, Gábor T. Rittersporn e Viktor N. Zemskov, por exemplo, alegou uma cifra de aproximadamente 680.000 execuções durante o regime stalinista.
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