segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A AGRICULTURA E OS FOGOS.



Numa análise cuidada sobre as principais causas dos fogos nas ultimas décadas em Portugal, seria um erro dissociá-las deste sector fundamental na economia de qualquer nação, a agricultura.
Nos tempos de hoje já com idade para ser avô, apesar de tudo não me considero velho. Isto para dizer que nasci numa aldeia onde a pobreza era uma evidencia, já era obrigatório andar na escola, pelo menos até à antiga 4ª classe.  Já havia alguns empregos fabris nas proximidades, mas, pela força das circunstancias, praticamente andei nas terras e pinhais, na chamada agricultura de subsistência até à idade da tropa. Esta vivencia permite-me agora fazer uma avaliação do quanto é importante o desenvolvimento da agricultura, não só em termos de colmatar as nossas actuais insuficiências em produtos agrícolas, como da criação de empregos e defesa das florestas em relação aos fogos. Como é do conhecimento geral, em determinada altura,  (anos oitenta) deu-se inicio à destruição da nossa agricultura, pescas e industria pesada, a mando de então CEE e pela mão de Cavaco Silva, 1º ministro de Portugal na altura. Dizia-se que éramos um País de turismo, a maioria do povo acreditou, agora, se queremos os mercados abastecidos de trigo, fruta, legumes, carne, peixe, etc, temos que tudo importar, com as consequências gravíssimas que pesam na nossa balança comercial. E o turismo que temos actualmente, é o mesmo ou será ainda menos?
Voltando à agricultura do meu tempo de jovem adolescente, todos os extensos vales, alguns arneiros e encostas eram cultivados, com os mais diversos produtos adequados a cada tipo de terreno e estação do ano. Era feito o desbaste e limpeza das florestas e pinhais pelos seus proprietários, cujo mato era seco, junto e transportado para as habitações, onde servia de estrumeira nos pátios e cama de conforto aos animais domésticos, posteriormente aproveitado como abudo nas diversas semeaduras, após fermentação. Oh que sabor tinham aquelas batatas, os melões, os tomates e os pepinos; aquele grão de bico, o feijão, a fruta da época, as couves, etc...e a excelente e saborosa qualidade da carne que se obtinha dos porcos, galinhas, coelhos, perus, criados com as sobras dos diversos produtos agrícolas: ora das abóboras, do milho, da farinha, dos frutos de época de cargas excessivas das árvores, das cascas da batata com que faziam as chamadas lavaduras!!! Apesar das saudades dos sabores desse tempo, não é meu desejo que voltem, porque também eram tempos muito difíceis, talvez como os de hoje, em que os mais pobres não tinham dinheiro para comprar outros produtos que necessitavam. Em contrapartida acho que devia haver bons estímulos para que pudéssemos ter uma agricultura mais moderna, mais mecanizada, em suma, mais atractiva, e ao mesmo tempo sermos auto-suficientes. Consumirmos do que é nosso, muitas vezes de superior qualidade em relação aos importados, e sobretudo criar condições para que as gentes de regiões predominantemente agrícolas não tivessem que se deslocar para outras zonas do País e do estrangeiro em busca de melhores condições de vida.     
Pelo que atrás foi dito, esta actividade pela sua natureza seria suficiente para evitar a chaga de fogos a que temos vindo a assistir nas ultimas décadas. Mais, além da limpeza e cuidado da floresta, a simples presença dos humanos no campo, seria em simultâneo a respectiva vigilância anti-fogos... As terras então cultivadas serviam naturalmente de travão a eventuais fogos.
Bem me lembro que nesse tempo em que se passava o dia inteiro no campo, o almoço era confeccionado no momento, (grelhados de peixe ou carne) fazia-se fogueira para o churrasco e não aconteciam fogos, pois, apagar bem uma fogueira era um facto não descuidado... Agora que é proibido fazer fogueiras na floresta e em campo aberto, que há coimas avultadas para quem for apanhado a fazê-las na época de verão, os fogos acontecem com muito mais frequência e de maior dimensão.
Podemos então afirmar que ao destruir-se a agricultura, com o consequente abandono e falta de limpeza da floresta, além do que atrás foi dito sobre importação de produtos, também tivemos que investir milhões em meios de combate aos fogos e em meios humanos. Com isto, além da devastação da floresta, a consequente perda de meios materiais e humanos.
Em função do exposto e sem margem para duvidas, os políticos que têm dirigido os destinos do nosso País têm sido uns incompetentes em muitas áreas, se não em todas, mas, sobretudo nesta. Além de não saberem ou não quererem administrar devidamente ainda destroem. É tempo de dizermos não a esta gente que nos tem governado nas ultimas décadas e sabermos escolher quem verdadeiramente defende o que de melhor tem a nossa nação, o seu povo, a sua terra.


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